BARRO X ASFALTO

30/12/2012 18:17

 

                            A HISTÓRIA

 

                                  BARRO X ASFALTO

 

Tudo originou-se quando da construção dos prédios da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, no bairro do 7 de Abril, há muitos anos atrás, mas precisamente, no fim dos anos 60. Não se sabe por qual motivo a construção foi realizada somente em um lado do bairro, já que este é dividido, praticamente ao meio, pela Estrada Santa Eugênia.  Como é comum em qualquer empreendimento, dali vieram muitas melhorias, somente para uma parte do bairro, e dentre estas, o asfalto nas ruas.

 

O tempo passou e a diferença se tornava mais evidente nos tempos de chuva, quando os moradores da parte sem asfalto, o Barro, vinham em direção a estrada principal, com intuito de realizar as suas tarefas mais cotidianas, com os pés totalmente enlameados e sujos de barro. Dali partia as provocações, chacotas, brincadeiras de mau gosto, rixas, rivalidades e até desentendimentos. Mas um fato há de ser destacado, quando os moradores do barro vinham para o campo do 7 de Abril, que é do lado do asfalto, para jogar futebol ou assistir as partidas, as diferenças desapareciam ou eram minimizadas, pois o esporte é capaz desse feito. O bairro como sempre, fechava-se em torno do campo e do seu lendário time de futebol, formava uma seleção, incluindo os jogadores do barro, que era o seu grande orgulho. Dali formou-se alguns jogadores que jogaram por quase todo o Brasil, e também no exterior, o que muito nos orgulha e quando não, os jovens se tornaram pessoas de bem e respeitadas. Então se existia alguma diferença, ela logo se dissipava, pois o futebol, como todos os esportes, agrupa pessoas, exige disciplina e respeito a regras, desperta a importância do companheirismo e do trabalho coletivo, e o que a princípio, era motivo de provocações e chacotas, passava a ser entendido como forma de diversão.

Foi num desses momentos, no início dos anos 70, que surgiu a idéia de se formar duas seleções, uma de cada lado do bairro, ou seja, uma do BARRO e outra do ASFALTO, para ver quem possuía o melhor time, numa partida que seria realizada no primeiro dia do próximo ano. Estava dado ali, mesmo sem ter consciência da proporção a que chegaria, o paço para um dos movimentos culturais mais fortes da nossa região.

 Para se ter uma idéia da força e paixão dessa cultura, basta voltarmos no tempo e nos lembrarmos de uma fase muito ruim de nossa história, na época da ditadura, quando o campo foi interditado, por quase dez anos, por conta da truculência de um policial da antiga DOPS, que morava em frente ao mesmo e sentia-se incomodado quando a bola caia dentro de sua casa. Mesmo interditado, quando ia  aproximando-se o dia primeiro do ano seguinte, data marcada para o jogo, era comum vermos as pessoas andando em direção ao campo com enxadas, dentre estas: pais, filhos, amigos, vizinhos, rivais, inclusive jogadores de futebol profissional, para capinar em forma de mutirão, começavam de manhã e com os faróis dos carros ligados para iluminar,  muitas vezes só paravam à noite, uma situação surreal, afrontando a própria ditadura, pois o jogo tinha que ser realizado. A cada ano era a mesma expectativa, se haveria ou não a partida, ainda bem que venceu a força da coletividade e a cultura se perpetuou.

São comuns os comentários dos pais sobre a expectativa, principalmente das crianças, que jogam no fraldinha, do dia que antecede aos jogos, ou seja, no dia trinta e um de Dezembro. Nesse dia a maioria das crianças os monitora, pois os mesmos têm o compromisso de levá-los para as partidas que dão início aos jogos e que começam muito cedo, as 08h00min, do dia primeiro de cada ano, e não vêem a hora de entrar em campo, que já nesse horário, está lotado de torcedores.

É verdade que o principal jogo é o que encerra a festividade, pois os times são compostos dos melhores jogadores da região, inclusive atletas profissionais, mas na maioria dos jogos, as equipes são formadas por crianças e adolescentes. Que bom seria se as crianças e adolescentes do mundo inteiro tivessem o privilégio que as nossas tem, ou seja, começar o ano, que tudo indica que será de muitas alegrias, já com um compromisso, mas também participando de uma grande brincadeira.

 

 

 

 

 

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